morro do Macaco

sábado, abril 29, 2006

Notícia dolorosa (13)

Nas rodas de desocupados e cachaceiros, o Demerval da Farmácia anda mexericando que mulata Mercedez está morando no morro da Ladeira Virada. Diz que a nega está amancebada com Vadico Kalashnikov. Vadico é um neguinho retinto, magrelo, dentuço, canela fina. Sujeito cruel, destituído de qualquer préstimo, chefe da boca da Ladeira, acusado de comer o fígado do General Alberico - antigo chefe da Ladeira. Dizem que uma vez matou dois moleques de sete anos por causa de dois papelotes roubados.

Vou tomar uma atitude!


Seu Demerval Farmacêutico se preparando para aplicar mais uma injeção.


sexta-feira, abril 28, 2006

Matsuo Basho sobe o morro do Macaco

Matsuo Basho

O corvo pousa
em um galho morto --
noite de outono

Djalma do Santos

Um corvo pousa
em um galho morto --
tem presunto no morro

quinta-feira, abril 27, 2006

Disse-me-disse forte (12)

Agora o meu barraco ficou desarrumado. Karen Blixen me convidou para passear no seu Ford v8. Isak Dinesen me me telefonou direto de Rungstedlund só para dizer olá! Miss Paula Tieko timidamente sorriu para mim. As filhas solteironas do major Barbacena me convidaram para o chá da tarde. Björk Gudmundsdóttir lá em Santa Teresa me fez Gling Gló. Pina, Malou e Alicia me tiraram para dançar Cucurucucu Paloma. Dona Ivone Lara me chamou de estrela-guia. Dona Capitolina Santiago me olhou de um jeito tão esquisito bulindo dentro de mim feito mar bravo. Dona Ana Coimbra me recitou Friedrich Wilhelm Nietszche. Paula Lavigne quebrou a cara de toda turma lá do boteco do seu Hilário - e agora os caras estão me respeitando mais. Maiara Gouveia me chamou de manguco bedé. Larita Pedrita me desenhou um paletó xadrez. Ritinha me deu uma cantada. Layla me chamou pro ziriguidum balacobaco telecoteco. Dona Aracy me convidou para passear de ambulância. Maria Bethânia me pediu em namoro. Jeni Jeni me trouxe bolinho de chuva, coca-cola e cachaça (eiiitá!). Mas a mulata Mercedez não deu as caras.


Quando passarmos lá no Leblon pra turma ver vou fazer assim: fon fon!

domingo, abril 23, 2006

Onirodynia Trágica (11)

De noite na cama uma miríade de coisas estranhas e barulhentas passa pela minha cabeça, pelos meus olhos, pelos meus ouvidos: santo amaro, farmácia, guerra junqueiro, salvador, camisa listada, balão, você, triste verão, pedacinho de amor, ao romper da aurora, pandeiro, jacaré, uva, recenseamento, negra Josefina, a China, nobreza, pão de açúcar, noite azul, sinos da penha, janete, marcolina, boneca de pano, mangueira, verde e amerelo, retirada de laguna, cirandinha, arara, bola preta, folia, baile dos quarenta, Paraty, pão duro, triste verão, apendicite, flauta de bambu, batucada lá na praça Onze, canivete, operação, meu peignoir, minha sandália de veludo, rumba, fox-trote, uma melancia espedaçada e pisoteada, vísceras à mostra, cheiro de ovo gorado, vira-lata sarnento, dentadura no copo, dentes, dentes, dentes, caninos, molares, incisivos, olhos de vidro, morro do Corcovado, fundo de poço, guaraná com formicida e eu bem longe me acabando.

Soirée: definhando no paraíso.


sexta-feira, abril 21, 2006

Consternação Psiquiátrica (10)

Minha gengiva sangra. Minha língua está inchada, não cabe na boca, babo. Meu peito dói. Meu coração quase não bate. Meu pulmão chia feito uma sanfona furada. Minha barriga ronca. Minha mão direita está dormente. Minhas pernas mancam. Aftas, aftas, aftas! Pareço uma barata russa. Meu pai Jubiabá, minha tia Ciata, minha mãe Caninha escarnecem a minha dor: "somatizas a falta da mulata, meu filho", pilheriam prazerosos os três safardanas.


meu pai Jubiabá patuscando feliz em meio a chistes e risotas.

terça-feira, abril 18, 2006

Cataclismos Dermatológicos (9)

Fito a enseada - são oito horas da manhã. Não admiro aquele pedaço de água quieta - a praia de Botafogo. Em verdade, vos digo que penso em outra cousa. Meus cabelos estão caindo. Tenho uma erupção seborréica tomando conta do meu couro cabeludo, das minhas costeletas, do meu bigode. Apareceu uma pereba na minha orelha esquerda. Meus lábios estão cobertos por várias dermatoses inflamatórias. Meus olhos estão vermelhos, lacrimejo e enxergo com grande dificuldade. Nas minhas costas, meia dúzia de furúnculos enormes cobertos de pus. Entre os dedos dos pés, frieiras. As unhas das mãos caem uma a uma estraçalhadas por fungos e dermatites não identificadas. Meu nariz parece um caju - inchado e vermelho - cheio de espinhas. Observo as ruas, as ladeiras, os morros, as águas, a manhã. A coceira na orelha não passa. A dor de cabeça não passa. A dor nas costas não passa. Nada passa. A mulata não passa. A mulata não volta. Ai, ai, ai. Meus Deus, o que será de mim? O que será da macacada?


Dr. Joaquim & Joaquim chamados às pressas

sábado, abril 15, 2006

desditas feéricas (8)

o dia rompeu, o galo cantou, a mulata não voltou. passei o dia no bar do velho Hilário. tomei oito rabos-de-galo, cinco cervejas, nove cachacinhas Entorta Tripa, seis vodkas Djugashvili, três caipiroscas e ainda bati papo com uma mocinha que quer entrar pro partido-alto da nossa escola -- ela faz poemas e canta bossa-nova e, de vez em quando, canta funk também -- fiquei de pensar e, conforme for, falar co'a macacada do partidão... estou com uma bruta coceira na orelha, no nariz tenho uma espinha do tamanho do mundo, na nuca a pele escama, as minhas costas doem, a minha cabeça dói. e a mulata continua perdida no mundo, no mundo bem abaixo do morro.


véio Hilário: maroto observa tudo de camarote

desastres estratosféricos (7)

a mulata tomou banho por duas horas, chapou o cabelo, botou um vidro de água de cheiro francesa, uma calça gang, salto alto, camisetinha branca transparente, colarzinho, pulseira, anel, e - junto com a miss pin-up - foi pro baile da Deize Tigrona, sem dizer tchau... na varanda, balançando na rede, sozinho, miro a lua.

quarta-feira, abril 12, 2006

desastres domésticos (6)

fui na mãe Caninha pra me aconselhar. a minha mãe fumou dois charutos, tomou uma meia-dúzia de goles de cachacinha Entorta Tripa cuspiu pro lado e vaticinou: eiita mulata danada! depois roncou fundo e dormiu. fiquei a ver navios e bicicletas


mãe Caninha antes de molhar 0 bico.

domingo, abril 09, 2006

a vida no Macaco: José Maria sobe o morro todo santo dia

seu Machadinho sobe o morro do Macaco na sua bicicletinha todos os dias. equanto pedala, ele recita a Odisséia de Odorico Mendes com brados e salamaleques. a macacada pensa que ele é gira. mas na verdade ele está é mesmo muito abajoujado por uma mulata passista da escola de samba. será que seu Machadinho agüenta o tranco?!

sábado, abril 08, 2006

problemas domésticos (5)



enquanto eu pinto o barraco, a nega toma coca-cola e escuta a cássia eller cantar: a nega lá em casa não quer trabalhar se a panela tá suja, ela não quer lavar quer comer engordurado, não quer cozinhar se a roupa está lavada, não quer engomar se o lixo está no canto, não quer apanhar pra varrer o barracão, eu tenho que pagar se ela deita de um lado, não quer se virar a esteira que ela dorme, não quer enrolar quer agora um cadilac para passear... escuta e ri manhosa. eita que tá danado, seu moço...

problemas domésticos (4)


a mulata me mandou pintar o barraco. diz que quer o barraco nos trinques e cheirando a perfume. me pediu pra pintar cada cômodo com uma cor do Alfredo Volpi. alguém pode me dizer quem é esse Volpi?

problemas domésticos (3)

a mulata passou o domingo todo balançando na rede e lendo (!!!!!). espiei de rabo de olho e descobri que ela tá lendo um livreco de um tal de Ari de não sei o que... acho que Aristofânio... o nome do livro é Lisistrata. inté parece nome óleo de soja...

problemas domésticos (2)

mulata passou a tarde inteira balançando na rede e assoviando "Vingança" de Lupicinio Rodrigues: eu gostei tanto, tanto quando me contaram que lhe encontraram chorando e bebendo na mesa de um bar e que quando os amigos do peito por mim perguntaram um soluço cortou sua voz, não lhe deixou falar...

problemas domésticos (1)

a mulata Mercedez subiu o morro bufando: mulé braba é dureza. se alojou na cozinha do barraco e prometeu adoçar meu café com caco de vrido se eu não tomar tenência. sinceramente, não entendo essa mulata...

o morro do macaco


Do morro do Macaco se vê o mar azul da Guanabara. O morro do Macaco é vizinho do morro do Noel; é irmão do morro Dois Irmãos, primo do morro do Imperador, avô do morro Cilibrina, pai do morro da Preguiça, que é o morro mais alto do Rio de Janeiro. Ainda tem o morro da Piroca, o morro do Aluísio, o morro do Abecedário, o morro da Ladeira Virada, o morro da Baixada, o morro do Pelé, que foi assim batizado depois de uma copa do mundo.O morro do Dedo de Deus – também conhecido como o morro do Rodrigues – é o mais ameaçador com seu formato espingolado com barracos pendurados no vazio. O morro mais antigo é o morro do Castelo, que foi totalmente derrubado para que se construísse o centro da cidade. O morro do Castelo é o ancestral de todos os morros da cidade – existindo vazio no centro da cidade como um fantasma.