morro do Macaco

domingo, setembro 24, 2006

estrépito de palavras trôpegas (33)

Estou atento a todos os ruídos. O rumor dos veículos automotivos, o tilintar das moedas, o estrépito das palavras, a respiração das algas sob o mar profundo, as asas das abelhas. Escuto a eletricidade nos fios de alta-tensão, o movimento silencioso dos planetas, psius, ais, as bolhas de champanhe, o sino do Rosário. Ouço distante a neve caindo sobre Reykjavík, o risco do giz, o choro do morto, Paris, pés subindo a escadaria da Penha, cavalos escoiceando, o vento, preguiças, tamanduás, tatus, onças, jaguatiricas, pacas, muriquis, capivaras, mutuns, elefantes, ursos, macacos e leões de circo. O estrondo da bola na trave, o tiro no coração, o crescimento lento dos galhos da amendoeira no passeio público, as orquídeas, o gozo escorrendo nas pernas da puta, toda a zoada no canal do Mangue, o sono, a curva do bonde de Santa Teresa, as ondas, o vento e os peixes. E o rumor das raízes das árvores sugando a terra, o pão nosso de cada dia, o sangue escorrendo, o pigarro, o apito da fábrica de tecido, os tamborins, os tambores, os espíritos, os terreiros, as sereias.

Amolador da Vida, Alberto Korda

Assim infinitamente, balançando na rede, miro a cidade, apuro meus ouvidos e classifico obsessivamente todos os sons possíveis tentando ouvir-te.


segunda-feira, setembro 18, 2006

eu sou capenga

eu sou capenga!

meu filho, eu vou te pedir um favor: troca de calças, tá bom?

sábado, setembro 16, 2006

Quero antes o lirismo dos loucos

Seu Manuel
sarau na casa do seu Manuel Bandeira

quarta-feira, setembro 13, 2006

dor

Piet den Blanken
e ficou tudo vazio

domingo, setembro 10, 2006

cancioneiro da dona Maria (38)

Mariposa
A mariposa, triste e coitada
Veio ao mundo pra morrer queimada
E sofreu muito por ver a borboleta
Que vive no jardim beijando o cravo e a violeta
Wilson Batista


quinta-feira, setembro 07, 2006

cancioneiro da dona Maria (1)

Antônio Maria dá a dica
Ninguém me ama
Ninguém me quer
Ninguém me chama
De meu amor

segunda-feira, setembro 04, 2006

L-e-v-i-t-a-ç-ã-o (32)

Procuro ajuda profissional. O grande mestre Javier Cochabamba me ensina a levitar. Ele sonolentamente fala que tudo ocorre muito devagar, através da respiração, da concentração, da paz interior, do om! Esvaziar pouco a pouco a moringa... Escutar o coração bater mansinho tum-tum-tum... Soprar junto com o ar todo peso da sentença da vida... Esquecer as preocupações, as dívidas, os amores, as dores, a esposa, a sogra, os cunhados, os oficiais de justiça as desilusões devem ser largadas e sepultadas nas esquinas da vida...
Javier Cochabamba em Copacabana
Mestre Javier e família: domingo em Copacabana

Mestre Javier diz solenemente que posso levitar acima do alvoroço do mundo, subir acima do Redentor, ficar parado no ar feito um helicóptero, contemplar (de olhos fechados, bem entendido!) o mar reluzente, esquadrinhar os movimentos dos peixes, esquadrinhar os morros, esquadrinhar a babel de favelas, esquadrinhar os carros enlouquecidos furando sinais, buzinando. Molemente mestre Javier prega que a meditação pode me deixar forte pra cachorro, pronto pra enfrentar o mundo e toda a chateação que rodeia a vida moderna... Diz tudo m-u-i-t-o (m-a-s m-u-i-t-o m-e-s-m-o!) c-a-l-m-a-m-e-n-t-e, com um sorriso cheio de bossa, voz de cuíca, e me cobra cem paus por hora.

Mestre Javier é mesmo papa-fina.