morro do Macaco

domingo, maio 20, 2007

cercando o galo

Era uma vaca desgarrada. Se separou do rebanho e ficou vagando perdida na cidade. Ficou assim de lá pra cá até entrar numa boate chique na rua Maria Quitéria, em Ipanema. Sentou-se, deu um murro no balcão e mugiu. O garçom educadamente serviu uma dose de uísque bucanas, doze anos. A vaca bebeu, bebeu, bebeu, bebeu e mugiu muito satisfeita. O garçom solícito e educado serviu outra dose, e outra, e outra, e outra, e outra, e outra, e outra. A vaca bebeu. Sempre com mugidos de extrema satisfação.

Vinte uísques depois, a vaca já parecia meio grogue, o ambiente mais alegre, e o garçom serviu mais uma – a última! – dose. A vaca bebeu num trago só e mugiu. O bar estava cheio. Ninguém queria confusão. E o garçom serviu mais outra – a derradeira! – dose. A vaca bebeu e mugiu. O garçom se fez de besta e não se mexeu. A vaca mugiu, mugiu, mugiu. O garçom chamou o gerente. A vaca já impaciente mugiu. O gerente sorridente e simpático pediu calma. A vaca bastante irritada mugiu. O gerente discretamente chamou o segurança. O vaca chateada mugiu, esmurrou o balcão e levantou. O segurança pediu calma. O garçom pediu calma. A vaca balançou o corpo e mugiu. O segurança pediu calma novamente. A vaca ameaçou engrossar. Os seguranças ameaçaram engrossar. Os garçons pediram calma. A vaca mugiu. Os seguranças todos mugiram. A turma do deixa-disso pediu calma. A vaca mugiu de novo. Os seguranças mugiram. A turma do deixa-disso em uníssono mugiu. Quem é que vai encarar? Um policia aparecido não se sabe de onde mugiu ordem no recinto. Os seguranças, os garçons, a turma do deixa-disso, a turma da Viera Souto, a dona Aracy de Almeida, os policias, os curiosos todos mugiram. A vaca ajeitou o corpo, endireitou a cabeça e o pau comeu. A vaca saiu distribuindo chifradas três por quatro. A vaca distribuiu coices à torta e à direita...

cercando o galo!

Horas depois, no Canal do Mangue, a vaca foi vista vagando sem destino trôpega e bêbeda. E com a voz embotada mugia a Florisbela.